quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

#59 - CINEMATOGRAFIA, Alexandre de Aragão

Cego, o comboio corre léguas,
Com furioso e soturno martelar:
Dum cavaleiro medievo,
Que só sabe vencer,
Lembra-me o galopar...

Tem pressa de levar-me
À Cidade do Prazer.

Lá fora, os véus do luar ondulam
Sobre os prados;
Passam tapetes imensos,
Amarelos e arroxeados,
Que parecem suspensos...

Chego, e o meu desejo se persuade
Do coquetismo da cidade.

Há ruas longas, lisas como braços,
Com vestidos de mosaicos,
Onde mulheres de perfil lendário,
E olhos arcaicos,
Se cruzam como peixes num aquário...

Quando esta perspectiva
No meu País dos Sonhos se alongava,
Já o Tédio, a meu lado,
O sangue me gelava:

Como ele vinha disfarçado!

Eis o meu corpo, filhas das Luxúrias,
Tratai-o qual inimigo:
Não esqueçais que o saber
E a lentidão dum ritual antigo
São a chave do prazer...

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